“No princípio, Deus criou o céu e a terra”.
O trecho anterior foi retirado do capítulo inicial do primeiro livro bíblico, que integra a Torá e o Antigo Testamento.
Gênesis descreve a história da criação do mundo. Sendo assim, é nele que encontramos a origem do homem e da mulher, que foram criados à imagem e à semelhança de Deus.
Entretanto, no versículo 18 do segundo capítulo, encontra-se a passagem em que Deus declarou que “não é bom que o homem esteja só”, e que faria para ele uma ajudante idônea.
Esse capítulo do livro carrega o trecho em que a mulher foi criada – o processo da costela –, citando somente o nome de Adão.
Apenas no terceiro capítulo ela nos é apresentada: “e chamou Adão o nome de sua mulher, Eva”.
“Existe, contudo, uma outra interpretação, que nos parece mais fascinante, a de que, a exemplo do que foi feito com os animais,
Deus teria criado um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva”, explicita Roque de Barros Laraia, em seu artigo Jardim do Éden Revisitado.
Por que Adão estaria sozinho se no princípio Deus criou o homem e a mulher?
Se só na segunda parte Eva foi concebida e na terceira nomeada, a mulher da primeira parte sumiu?
Para muitas pessoas, sim. Teorias sugerem que outra mulher, Lilith, existiu antes de Eva.
Elas explicam, mesmo sem provar, que essas questões surgiram porque partes da Bíblia foram editadas e até mesmo excluídas.
“A igreja resolveu esconder isso das pessoas para que a criação de Deus parecesse perfeita, sem erros”, disse Gerald Furlan, renomado teólogo inglês.
Lendo as entrelinhas
Na parte em que Deus diz que não é bom que Adão fique sozinho e que daria a ele uma companheira idônea, há quem interprete que esse trecho sugere que já existiu uma mulher que não era idônea.
Ideia intensificada no versículo 23 do mesmo capítulo, quando Adão fala sobre Eva:
“Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!”.
De igual para igual
Segundo o Alfabeto de Ben Sirá, no folclore hebreu medieval, Lilith é considerada a primeira mulher que já existiu.
Esse texto, elaborado por volta do século VII d.C., compõe o Talmud, uma coleção de escritos rabínicos.
De acordo com esse livro, Lilith foi criada a partir da mesma matéria do homem, junto com Adão.
Entretanto, a questão do seu sumiço e da criação posterior de Eva se deu porque ela se recusou a se deitar sob Adão e se submeter a ele, porque não se considerava inferior ao homem.
Por essa disputa pela igualdade, Lilith retirou-se do Jardim do Éden, com destino ao Mar Vermelho.
A partir dessa explicação, as teorias concluíram que Lilith se tornou uma figura inconveniente para determinadas religiõespatriarcais, tais como o Catolicismo e o Judaísmo.
Hipóteses
Partindo do princípio de que Lilith foi a primeira esposa de Adão e que fugiu do Éden, existem suposições que afirmam que Deus enviou três anjos para trazê-la de volta ao marido.
Mas ela se manteve irredutível, por isso foi amaldiçoada a não ter filhos, e se os tivesse, eles morreriam ainda recém-nascidos.
Por tudo o que aconteceu, Eva foi criada.
E, ao ver seu marido com outra mulher, Lilith não ficou nada satisfeita.
Foi até o paraíso e induziu o casal ao adultério – o que seria o verdadeiro motivo para eles serem expulsos de lá.
“Existe também a crença de que Lilith teria se transformado em serpente para tentar Eva e se vingar de Adão”, acrescenta o autor Roque de Barros Laraia.
Ainda tem mais!
Existem registros de Lilith no terceiro milênio a.C., da antiga para a média Idade do Bronze, na demonologia suméria.
Além disso, textos mesopotâmicos a trazem como uma figura demonizada.
O autor de Jardim do Éden Revisitado afirma que Lilith foi transformada em um demônio feminino, a rainha da noite, que se tornou a noiva de Samael, o Senhor das forças do mal.